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Júri Policial Laline: oitiva de testemunhas e interrogatório do réu encerram fase de instrução

Na continuação do julgamento, iniciado na manhã de hoje , foram realizadas as oitivas de seis testemunhas e o interrogatório do réu. O ex-esposo da Policial Civil Laline Almeida Larratéa foi a primeira testemunha ouvida na parte da tarde. O agente da Polícia Civil Gustavo Dutra falou sobre os momentos após Laline ser atingida na cabeça durante uma operação policial e as consequências do ocorrido na vida dela. Familiares do acusado Anderson Fernandes Lemos também foram ouvidos e disseram que ele estava sendo pressionado por uma facção criminosa para vender a casa a eles ou retornar à criminalidade. E que os disparos contra os policiais foram feitos por engano, acreditando que estava se defendendo dos criminosos. Depoimentos Gustavo Dutra relatou que ficou cerca de nove meses afastado do trabalho, após os fatos, para a recuperação da esposa. Disse que Laline tinha dificuldades para caminhar e não falava quando deixou o hospital. O tiro afetou uma parte do cérebro ligada à memória e às emoções. A policial passou a não manifestar sentimentos, inclusive pela filha, na época com 3 anos. "O mais complicado foi a relação dela com a nossa filha. Por muito tempo eu não podia deixar ela sozinha com a nossa filha. Em relação ao casal, acabou, porque não tinha nenhum sentimento do lado dela." A Delegada Regional de Polícia Lígia Furlanetto contou que o caso ocorreu em 1º/04/22, quando Rio Grande alcançava um recorde de crimes violentos letais intencionais. Segundo ela, em dezembro de 2021 foi desencadeada uma guerra de facções criminosas nunca antes vista na cidade, gerando uma série de homicídios. A situação extrema colocou Rio Grande no Anuário de Segurança Pública como a 24ª cidade mais violenta do país. A policial explicou que houve uma força-tarefa e uma das estratégias adotadas visava o combate ao crime organizado. "Para tentar conter aquela pandemia de homicídios", frisou. A operação de 1º/04/22, da qual participavam Laline e os colegas, era comandada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e se voltou para uma das facções supostamente ligada ao réu. "Ele não só foi responsável pelos tiros nos policiais como também era responsável por colocar mais fogo naquele cenário de guerra que estava na cidade", declarou a Delegada. De acordo com ela, Anderson encontrava-se em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, por tráfico de drogas. E a arma utilizada por ele para alvejar os policiais era de uso restrito.   Defesa A esposa e os dois filhos do réu foram arrolados como informantes e prestaram depoimento durante o julgamento. Também um Policial Civil foi ouvido como testemunha de defesa. O filho do réu afirmou que o pai já teve envolvimento com o tráfico de drogas no passado e que teria recebido a oferta para vender a casa para uma facção criminosa e de retornar à criminalidade. Mas, diante da negativa, Anderson foi alvo de dois atentados. "Quando começou a guerra de facções na cidade, ele recebeu a ligação de um líder, oferecendo para ele voltar. Ele disse que não. Meu pai sempre foi muito pela família. Ele não quis voltar para o tráfico." Afirmou que o pai atirou contra os policiais equivocadamente porque estava assustado, achando que eram os criminosos, e que estava tentando defender a vida dos seus familiares. Disse que conheciam alguns dos policiais, que já tinham ido até a residência de Anderson em outras ocasiões, e que nunca houve resistência. Sobre a arma usada por Anderson, o informante disse que ele teria adquirido após o segundo atentado sofrido, quando a filha foi ferida. "Se ele procurasse a polícia, seria 'x-9' e sofreria represálias."   O depoimento da companheira do réu foi no mesmo sentido. "As ameaças eram ou o Anderson voltava a trabalhar para o tráfico e ficava na casa ou ele teria que sair da casa". Disse que os filhos já haviam deixado o local por estarem com medo. Afirmou que, antes da ação policial, a casa foi alvo de persos disparos que atravessaram móveis e travesseiros e que atingiram a filha de Anderson. Naquele dia, quando os policiais chegaram, Anderson começou a atirar achando que os criminosos haviam retornado. A informante disse que só depois que o companheiro atirou, reconheceu a voz de um dos policiais que já conhecia. "Anderson reconheceu a voz, largou a arma e se jogou no chão", afirmou. Disse que o companheiro começou a gritar quando viu uma pessoa caída no chão. "Ele entrou em pânico. Não era a intenção de acertar ninguém", declarou. "A nossa vida nunca mais foi a mesma", afirmou a companheira do réu. A filha do réu disse que foi atingida por um tiro de raspão nas costas durante um dos atentados contra a residência da família. E que depois disso deixou o local, indo para a casa da mãe dela com as crianças. Confirmou que a arma foi comprada por Anderson depois desse episódio. Afirmou que o pai nunca foi agressivo com a família e que não tem mais qualquer envolvimento com a criminalidade. O Policial Civil André Ricardo Luft estava de férias e não participou da ação na casa do réu em que Laline foi ferida. Acompanhou, posteriormente, os peritos durante o trabalho deles dentro da residência. Teve conhecimento de que houve novos disparos de arma de fogo à casa de Anderson após a prisão do réu. Sobre Laline, o policial afirmou que trabalhavam juntos, que ela era "fora do normal, dedicada, trabalhadora, se importava com os colegas". A testemunha disse que o réu era conhecido pela agressividade com que agia. "Ele sempre foi conhecido por ser violento, por querer tomar conta das casas, inclusive de usuários que não conseguiam pagar a conta", afirmou o Policial. Interrogatório do réu O interrogatório do réu Anderson Fernandes Lemos encerrou a fase de instrução do processo em plenário. Anderson afirmou que foi pressionado por criminosos para que vendesse a casa a eles ou voltasse a colaborar com o tráfico de drogas. Diante da negativa, passou a ser alvo de atentados. Retirou filhos e netos do local, permanecendo apenas ele e a companheira. Afirmou que nunca foi sua intenção tirar a vida de ninguém, "muito menos a de um policial". "Estava dentro da minha própria casa acuado. Uma noite antes eu havia sido alvo de atentado. Naquele dia, achei que ia morrer", afirmou. "Ela é uma inocente que estava fazendo o trabalho dela. Eu fiz este ato em desespero de perder a minha própria vida. O meu sentimento é de culpa", afirmou o réu, referindo-se à Policial Laline Almeida Larratéa, atingida na cabeça por um tiro disparado por ele. "Gostaria de pedir perdão a ela", ressaltou. Anderson está sendo julgado pela tentativa de homicídio qualificado de Laline e de mais seis colegas dela, após alvejar os agentes a tiros durante uma operação policial realizada em 1º/04/22, na cidade de Rio Grande. Ele disse que, no dia dos fatos, não ouviu os policiais anunciarem a operação e que foi a companheira dele quem reconheceu a voz de um dos policiais e o fez entender do que se tratava, largando a arma e se entregando à polícia. De acordo com o réu, ele nunca foi membro de facção criminosa. A arma que adquiriu foi trocada com um vizinho para defender a família, após a filha ser atingida por um tiro de raspão nas costas, em uma das investidas contra a casa dele.   Confira a cobertura fotográfica do júri no Flickr do TJRS  Acompanhe a cobertura pelo X
15/10/2024 (00:00)
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